Mariana Bacelar

No trabalho que tenho vindo a desenvolver utilizo uma menina-heroína (Wrongdoing?), uma personagem dos livros da minha infância e da qual me apropriei como cicerone de diferentes fábulas/aventuras sobre a realidade.

Interpretando diferentes personagens da história das culturas, esta menina faz-se passar por figuras mitológicas femininas que servem de parábola para os temas que pretendo abordar.

E esses temas são o autoritarismo e a manipulação em diferentes tipos de relações de poder. Tanto a nível dos comportamentos sociais normalizados, quando alguém impõe injustamente a sua autoridade sobre o outro, como a nível global onde a chamada globalização corporativa impõe o seu interesse económico de forma a homogeneizar culturas e identidades específicas.

Destes temas surgem imagens que utilizo e desenvolvo no meu trabalho tais como a clonagem ou multiplicação, a perseguição e o medo, a aglutinação ou devoração, a inquisição, a opressão.

Estas imagens são sempre integradas em diferentes cenários infantis. Desta forma pretendo usar a condição da inocência infantil como forma de representar a vulnerabilidade, bem como os processos de maturação na sociedade e no individuo.
O facto de as protagonistas destes temas serem crianças é porque vejo nelas a capacidade latente de rebelião e mudança. Considero esta vitimização como um estado temporário de sujeição e não como uma condição perpétua.

Os mitos, as fábulas e os ícones, devido ao seu carácter metafórico e fantástico, foram desde sempre a forma por excelência de divulgar regras e ideais de conduta nas sociedades. Tal é o caso das heroínas dos livros da minha infância que eram representações do ideal social de menina, ditando assim desde a infância o papel da mulher na sociedade.

No meu projecto pretendo reinterpretar antigos mitos e símbolos que me parecem ainda actuais e trabalhá-los numa linguagem plástica e visual de forma a potenciar o imaginário e o sonho. Pretendo usar a alegoria como forma de interpretação e diálogo sobre a contemporaneidade.

 

Mariana Bacelar, 2007