João António Fazenda
Itinerâncias do Olhar – notas sobre uma exposição
Inicio esta exposição com uma fotografia intitulada “ Impressão digital”. Significa isso que quero deixar aqui uma marca, a minha marca, única como são únicas todas as impressões digitais.
Esta marca é a do meu olhar. Um olhar itinerante. De alguém que gosta de andar e fotografar! De olhar e sentir. Concentrando-se apenas num objectivo: obter as melhores e mais significativas imagens do mundo que o rodeia, sejam elas de pessoas, de objectos, de acontecimentos, de paisagens…
Henri Cartier-Bresson dizia que fotografava como a borboleta borboleteia, olhando à esquerda e à direita. Eu também. Com tempo. Prescrutando o espírito dos lugares, estudando a luz e a sombra, ouvindo os sons e o silêncio, comungando com os homens e com a natureza.
A minha fotografia é sobretudo humanista, tem como principal motivo o homem, nas suas várias idades, do nascimento até à morte. O homem e as suas circunstâncias, isto é o meio onde vive, trabalha e passa os tempos livres.
Mesmo a maior parte das paisagens de que fixo a imagem, depois de as interiorizar, são paisagens humanizadas, onde o homem deixou rasto.
Procuro que as minhas fotografias tenham algo a dizer sobre nós e o mundo que vamos construindo. Faço-o com todo o respeito pelas pessoas fotografadas, que a partir desta imagem cesura ganham uma dimensão que as transcende, tornando-se representativas das demais.
Ao ser comissário da minha própria exposição fiz o exercício difícil da escolha incidir sobre imagens obtidas só em Portugal, representativas das itinerâncias do meu olhar ao longo do país que melhor conheço e amo.
Escolhi, com raras excepções, o preto e branco e o analógico pois foi essa a minha escola, que ainda não abandonei.
Termino estas breves notas de apresentação esperando que a selecção feita demonstre a paixão já velha de quatro décadas que nutro pela fotografia e desperte algum interesse nos habitantes e visitantes de uma cidade que está habituada a ver “la crème de la crème” dos autores desta grande arte, em exposições memoráveis dos seus Encontros de Fotografia e do Centro de Artes Visuais. Agradeço à Direcção da Galeria de Santa Clara, na pessoa da Dra. Olga Seco, a oportunidade que me proporcionou de a mostrar numa exposição individual que muito me entusiasmou.
João António Fazenda